Ele é um poeta das coisas simples que são tão importantes à nossa realidade incisiva. Em suas canções tão emotivas e sublimes fala das flores, das coisas da nossa terra, da nossa gente humilde e sofredora, dos bichos, de acidentes geográficos, do presente, do passado e do futuro, de si mesmo e de Deus...
Sendo assim, leia a entrevista, tone-se fã desse artista que é patrimônio nosso, e se deleite em feixes de mote doce com rimas bem encaixadas.
Senhoras e senhores!
Temos o prazer incomensurável de lhes apresentar a nossa majestade “Zé Neguinho do Coco”.
Blog - Zé Neguinho, onde tu nasceste?
ZN - Nasci no Morro da Conceição, Casa Amarelo e me criei lá.
Blog - Com quantos anos você começou a cantar coco?
ZN - Com 12 anos.
Blog - Como foi a tua infância?
ZN - Não foi boa, mas também não foi ruim. Fui menino muito obediente e gostava de trabalhar.
Blog - Além de você, tem alguém na tua família que é coquista, que é artista?
ZN - E muita... Tio, pai, minha mãe cantava que só uma cigarra, embora não tem nenhum vivo, nenhum vivo...
Blog - Você enfrentou algum tipo de rejeição por ser negro ou por ser coquista?
ZN Não. Pelo menos nunca percebi.
Blog - E hoje, como você se sente sendo coquista?
ZN - Sinto-me bem por defender a boa música. Através da minha arte já viajei para São Paulo, Minas Gerais... Fui bem recebido nesses lugares. Ser reconhecido como artista em Pernambuco é muito difícil.
Blog - Qual o melhor momento para compor?
ZN - À noite é o melhor momento para compor, se o silêncio existir.
Blog - Você já pensou em desistir da carreia de coquista?
ZN – Não. Só que os artistas da terra estão muito encostados (esquecidos).
Blog - Qual é a tua religião?
ZN - Ecumênico.
Blog - Como foi a tua convivência com teus pais?
ZN - Era boa e ruim. Ruim porque não queria que meu pai se viciasse em cachaça. E ele se viciou... Boa porque me ensinaram o valor do trabalho. Mas não só trabalhei. Brinquei e toquei muito percussão.
Blog - Você gostava de estudar?
ZN - Não. Eu gostava mesmo era cantar coco. Não tenho nenhum coco feito de caneta. Comecei com doze anos de idade a cantar. O que canto hoje é o coco raiz.
Blog - Como devemos chamar o coco de Dona Selma do Coco?
ZN - Praieiro.
Blog - Você se sente velho?
ZN - Não. Velho é aquele que se acomoda.
Blog - Você conheceu pessoalmente Jackson do Pandeiro?
ZN - Mais! Almira Castilho, mulher de Jackson, Jackson e Genival Lacerda. Orlando Dias...
Blog - Por quais lugares do Bairro de Casa Amarela Jackson do Pandeiro andou?
ZN - Córrego do Euclides, Alto do Pascoal, Alto José Bonifácio, Morro da Conceição...
Blog - Você gostaria de ser menino, nos dias de hoje?
ZN - Não. A maioria das crianças perdem a inocência muito cedo, hoje.
Blog - Você já jogou capoeira?
ZN - Capoeira, futebol... Toquei em escola de samba...
Blog - Então diante desse caos todo, dessa confusão, dessa bagunça toda, dessa violência escancarada, dessa falta de vergonha na cara da maioria das pessoas... Qual é a mensagem de paz, a mensagem sua como artista, como um senhor de 70 anos de idade, pai de família, diria para o Recife, para Pernambuco, para o mundo e até mesmo para nós que somos seus fãs?
ZN - Respeitem os idosos, jovens. Não se droguem. Busquem boas coisas. Coisas saldáveis. Deus é mais!
Acesse o link abaixo e ouça uma das musicas do artista gravada na rua no dia da entrevista.
Quisera - Zé Neguinho do Coco
Expediente.
Fotografias - Jesuel Santana
Texto - Andrê Santana
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