Casa
de barro e chão batido... A roda do carro roda. Zero por cento de
combustível... É madeira que se transforma em brinquedo, é carro de boi... No
ar poluição de alegrias que prenunciam lazer eterno. A vida segue... Segue
mesmo... Amadurece tudo... Envelhece todos... E o lazer fica a cada segundo
para trás. A vida seguiu e chegou... E continua a seguir... Se houve tempo para
admirar a lua, esse parecia mais a incerteza de um relâmpago que, por sua
própria natureza, nunca espera, nunca é demais... O menino já é homem feito.
Lá
para as bandas do interior da Barra de Guabiraba nasce João Rufino Lopes.
Menino pobre que conheceu a rotina árdua do trabalho antes do galo cantar. Aos
sete anos de idade. No sertão é assim... A infância despede-se de seu dono
prematuramente. E o homem que, até um dia desse foi criança, sabe exatamente o
significado de cada gota de suor que pinga quente do seu rosto. Sabe que quando
o bucho pede comida, é hora de assumir que é valente e trabalhador. Mas o
trabalho de alguma forma evolui o ser. Não é só fadiga. Portanto, varrer uma
casa ou administrar um país é tão importante quanto se educar.
Todos que o conhecem sabem que a fotossíntese do seu eu impregna o ar de bondade. Sabem que, assim como as borboletas partiram daqui há algum tempo, todos iremos também um dia. Alguns deixarão histórias para serem lidas e relidas e praticadas. Assim como Japinha, outro cognome do nosso japoneseiro, deixará.
Seu
Danda, como é mais conhecido pelos populares, subiu o Bonifácio pela primeira
vez em 1978. Hospedou-se na casa de uma irmã sua e nunca mais saiu dessa
comunidade. Ainda hoje sua casa não é sua, é alugada. Aprendeu com um cunhado a
passar troco. Cunhado esse que lhe presenteou um tabuleiro de alumínio e uma
freguesia considerável.
De sandálias havaianas, bermudão e camisa pollo, anda pelos becos e ruas do bairro. Ja-po-nêêês! Batata, coco, amendoim e banana, freguêêêê-sa! Seu grito é aboio, é som de gonguê que, em vez de chamar os bois, chama os amigos... Chama os irmãos por parte de Deus. Ganha menos dinheiro do que os outros doceiros por cortar os maiores pedaços do mel, é verdade. Porém, cada venda que faz é sempre um espetáculo! Momento propício para a meninada comandar a festa.
Para
quem já tirou madeira da mata sentindo o peso do machado, passar algumas horas
à frente do fogão preparando doce, é o mesmo que admirar uma noite em tempo de
lua cheia.
Dono
de uma popularidade invejável, fica difícil de saber. Quem é mais popular: o
doce ou o doceiro?
As
moças de outrora hoje são senhoras. Ainda compram japonês ao velho amigo. E
dizem: Éramos todas jovens quando ele começou... E isso já faz 36 anos. São
lembranças de dona Quitéria e de dona Maria.
Hoje
de fronte das lentes de um fotógrafo, é retratado com profissionalismo e respeito.
Mostrado ao mundo como valor humano e profissional. Que foi, que é e que sempre
será. Destaque dentro de uma comunidade periférica onde é personagem de um
cotidiano cheio de buzinas, fios de alta-tensão, antenas parabólicas, crianças,
alcoolistas e beatas. Onde, por ser bem quisto, até os cachorros vira-latas vêm
ao pé de seu cavalete pedir doce.
Os
Engenhos Japaranduba, Capibarinha e Marcau Assul ou Caga Fogo talvez sintam,
hoje, a falta de um alguém que sempre deu o melhor de si. Talvez sintam a falta
da fineza e da simplicidade de um homem que sai por aí, mas tem endereço certo.
Essa
é uma história de superação, sucesso e dignidade. Uma forma de acariciar o
Brasil que já sentiu o peso de uma ditadura. Uma fusão do que é brejeiro e do
que é citadino. Incentivo para muitos burgueses e periféricos que têm medo de
subirem “degraus”. Medo de saírem do casulo e acontecerem na vida.
Fotografia e Arte - Jesuel Santana
Texto - André Santana
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