domingo, 11 de outubro de 2015

História de um Cantador / Story of a Cantador


O Recife chora todas as vezes que chove forte. Barreiras deslizando levam casas para beijarem o chão. Ao mesmo  tempo  que trazem choros e mortes, mostram-nos bueiros entupidos que fazem  da cidade um oceano de água barrenta. Bueiros abertos parecem “hot valley” furiosos prontos para engolirem a roda de um carro ou algum transeunte que só Deus sabia o seu destino. Esses são problemas corriqueiros, simplórios e desastrosos  que maltratam muitas cidades brasileiras. E, como se não bastasse a ignorância da população menos favorecida no tocante ao destino do lixo, há um mal pior do que isso: a música vergonhosa, de baixo calão que toma conta do nosso dia-a-dia, a todo momento, a todo instante. Música essa que deturpa a imagem da mulher, corrompe nossas crianças e tenta excitar em nós a promiscuidade. Obtendo êxito na vida de milhares de pessoas.
A Itália tem Plácido Domingos, Pavarotti e Andrea Bocelli como representantes da música erudita mundial. E aqui no Brasil, em Pernambuco e mais especificamente em Recife, temos a nossa majestade “Zé Neguinho do Coco” que deixaria Augusto dos Anjos, Fernando Pessoa, Aristóteles e tantos outros  boquiabertos. Quantos de nós o conhecemos? Quem não o conhece ainda não tem acesso a uma época em que o povo era mais solidário. Onde as conversas nas calçadas eram festas da noite, tendo a lua por testemunha e o grilo cantador fiel por satisfação.
Zé Neguinho é o protótipo de artista genuíno e singular  que defende a nossa cultura com o escudo da moralidade e do altruísmo. Desejoso de ver novamente um tempo onde as pessoas reverenciavam um cantador de coco. Um tempo de paz. E, como ele mesmo diz em uma de suas músicas, somos irmãos por parte de Adão e Eva.

As periferias pernambucanas necessitam urgentemente explorar o que o nosso Estado e o nosso país têm de mais belo no campo das artes, assim como conhecer melhor a nossa fauna e flora e preservá-las. E, como exemplos de arte urbana bem feita temos a “Orquestra Popular da Bomba do Hemetério”, o grupo de hap “Gueto Psicodélico” do alto José Bonifácio e a nossa sumidade das coisas populares, nossa majestade “Zé Neguinho do Coco”. Espécime de rei negro da música de Recife. Mas como termos uma periferia alforriada se a própria justiça e o próprio Estado que diz investir em educação, permite uma liberdade de expressão promíscua e exacerbada e onde um pouco de puritanismo é sinônimo de “babaquice”. As classes sociais menos favorecidas tendem a escutar aquilo que lhes oferecem.


O blog  “ jesuelsantana.blogspot.com.br ”, entrevistou Zé Neguinho e descobriu dores e alegrias desse artista que não encontra espaço em sua própria terra-natal para expressar a sua música.
Por tudo isso, encante-se com a matéria, veja-se no espelho. Permita que o reflexo da cultura de Pernambuco toque no seu íntimo. Analise e absorva a poética que dignifica a música e o ser. Quem sabe assim, no próximo São João ou até mesmo antes, você cairá no coco sendo iluminado pela luzes dos holofotes e liberando o brilho do amor.

Expediente:
Fotografias - Jesuel Santana
Texto - Andrê Santana                                       


Local: Alto do Pascoal - Recife-PE

0 comentários: