Quando uma semente é lançada em solo fértil, não há quem
possa impedir a sua germinação. O tempo, senhor de tudo, é de Deus a criação. É
o cartório e o batismo que nos abraçam e nos mostram sua dualidade,
obrigando-nos a escolher o que achamos que nos é cabível. Cantar, jogar
capoeira, embolar, dançar Reggae, virar b-boy ao ver mandacarus florescerem no
asfalto. É Brasil, é Nordeste...
Há 40 anos nascia na comunidade do Alto José do Pinho um
menino chamado José Édson da Silva. E, como todo menino, gostava e ainda gosta
de pião, bola de gude e terreiro. Nesse país de tantos zés, é Zé Neguinho, Zé
Limeira, Zé Lezim, Zé Lins do Rego, Zé Alencar, Zé Geraldo, Zé Rocha, Zé da
Flauta, Zé Ramalho... chegou mais uma para aumentar o time. Zé Brown é o nome artístico
desse grande garoto Homem feito. Com um pandeiro na mão, nosso M.c Zé Marron, canta uma belíssima
em bolada falando dos Altos em plena praça da localidade onde morava. No
Brasil é assim: Rap, repente e embolada fundem-se. Viram óperas suburbanas. Mas
só se Zé Brown estiver por perto.
Brown foi um menino criado em duas realidades. Uma, o Alto
onde nasceu e se criou. Setor urbano. A
outra, Nazaré da Mata, setor interiorano. Filho adotivo criado sem pai, o tempo
presenteou-lhe duas mães. Assim como vinho fino envelhecido, o tempo também maturou
o seu eu para que ele pudesse brilhar como pessoa e como artista nos palcos
diversificados do mundo, levando a alegria de um caboclo embolador que é, urrando
Rap até mesmo entre papangus. Isso é Brasil!
Cada manhã que nasce é um passo que devemos dar em busca de
algo, em busca de nós. E a fé, a grande força motriz que deve habitar-nos, é
indispensável diante da dinâmica do viver. Um passo, dois passos, três
passos... e foi de passo em passo que o encontro do artista com a arte do Hip-Hop
aconteceu. Como água que foge de um cano estourado e encontra a luz do dia, esse
acontecimento se deu em 1988. Nesse ano, ainda aluno de capoeira do mestre
Cancão de fogo, Brown desce o Pinho com alguns amigos indo à Praça do trabalho
que fica no Bairro de Casa Amarela. Lá havia uma feira típica com a presença de
rodas de capoeira, de break e de uma equipe de som chamada geração 80. Foram
momentos de muita Black- music e discoteca. Estupefato diante do espetáculo
Hip-Hop, levado por um amigo, passou a frequentar todas as roda de break do
Recife. Daí por diante começou a praticar essa dança. No entanto, foi só nos
anos 90 que descobriu-se compositor, improvisador e M.c.
Em 1990 ele forma e torna-se âncora da Banda Faces do
Subúrbio que tinha como integrantes: Tiger, Marcelo Massacre, Garninzé e Dj
KSB. A banda era oriunda do Próprio Alto José do Pinho. Ela tinha um outro
nome. Chamava-se: The Boys of The Rap, pois trazia em si mesma uma grande
influência norte-americana. O grupo encontra-se em stand-by. Porém, Zé Brown
garante que “A Faces” voltará aos palcos logo, logo. Tomara!
Quando alguém periférico, aqui no Brasil, ganha projeção
municipal, estadual, nacional ou mundial em alguma arte, é nesse momento que
vemos o florescer dos mandacarus em pleno asfalta, entende? A Orquestra Popular
da Bomba do Hemetério é outro exemplo de mandacurus que florescem
cotidianamente.
Zé Brown é o Homem 360º. Antena parabólica. Se vira com o que tem, com o que pode e deve. Charlin Chaplin brasileiro dividido entre a seriedade e a comédia. Moldura de um artista que por onde pisa, o chão é de estrela. De estilo musical forte, o brado retumbante dessa nação também sai de sua boca, de sua voz, do seu canto. Podemos prestigiá-lo a hora que quisermos, pois a classificação indicativa é livre.
Expediente:
Texto - André Santana
Fotografia e arte - Jesuel Santana
0 comentários:
Postar um comentário