Ele não
nasceu há dez mil anos, nem tampouco sabe qual é o futuro da humanidade. Gosta
de boa música, de tocar violão e de um maluco beleza que o Brasil conhece e
admira. Estamos falando de um Raul que é fã do Raul Seixas. Reflexo e simpatia
em uma única história cultuada dentro de um universo humano limitado dividido
entre o sagrado e o profano. Comunidade, Homem e trajes. Tudo simples! Tudo
Rock! Pensando bem, essa história fascinante sempre será uma roupa nova diante
de uma cultura trash que insiste em ficar, infelizmente.
Em plena
década de 50, nasce aqui, no Recife, Djair Antônio da Silva. Cresceu e vive até
hoje no Morro da Conceição. Nessa mesma época chega ao Brasil os primeiros
aparelhos de tv em preto e branco. Eram TVs de seletor, bagaço de cana e
válvulas.
O que faz
uma pessoa ser fanática por um cantor a ponto de torna-lo uma religião? Loucura
isso, ou vontade de tornar-se também um ativista musical? De uma coisa não
devemos duvidar: Quando um cantor é excelência, o coração dos fãs palpita
diferente rejuvenescendo-os dia a dia. Prova de que podemos ter um mundo mais
feliz se cada um der a sua contribuição social.
A
admiração que Djair nutre até hoje pelas músicas do Raul aconteceu de repente e
por acaso. Se é que o acaso existe!
Certo
dia, ele foi convidado por seu amigo José Antônio para ouvir alguns discos do
cantor Raul Seixas em sua casa. Djair ouve pela primeira vez a música Mosca Na
Sopa e detesta. No entanto, ao ouvir a música Medo da Chuva, o milagre
aconteceu em sua vida. A música comoveu-o tanto que quase chorou. Entrou em
êxtase profundo por algum tempo. Aconselhado pelo amigo, virou sósia do cantor.
O ano era 1983.
Sua casa
humilde e pequena transformou-se em fiteiro-bar. Na parte externa dela,
estampada na parede, a figura do ídolo Raul Rock Seixas. Óculos de grau sobre à
mesa. Óculos escuros no rosto. Pronto! O download espiritual é imediato. Com um
violão cansado pelo tempo, porém afinado, Djair é show, é alegria... é canto
iluminado pela luz da manhã. Uma moldura perfeita para fomentar reminiscências.
Se os
afazeres da vida não existissem, tocaria Raul em todos os instantes e em todas
as horas. Esse amor não é loucura, nem revolta e nem carência afetiva. É sim,
consciência cidadã e preservação de uma originalidade que só o Brasil tem. Por
isso, Djair, toca Raul! Toca Raul, por gentileza.
Como
sósia, Djair fez muitas apresentações e ganhou pouco dinheiro.
Infelizmente um problema de saude afetou-lhe a voz. Porém, aprendeu com o tempo
que é sempre maravilhoso tentar outra vez rumo ao que dignifica. Sendo assim,
ele continua cantando dentro de suas limitações vocais.
O tempo
muda, é fato. Traz consigo coisas boas e ruins. A tv de válvulas e tubo deu
lugar à tv tela plana. Imagens em alta definição, imagens em cores... O Recife metamorfosiou-se...
Os trens já não circulam mais por ele, silenciaram de vez... Para nossa
consolação, alguns trilhos ainda costuram o chão do Bairro do Recife Antigo. Lá
do alto do Morro, onde muitos fazem promessa, Djair já não ver mais ônibus
elétricos rodando pela Av. Norte. Também desapareceram deixando apenas
lembranças. O que não desapareceu foi o amor do sósia pelo ídolo. Esse
sentimento, podem crer, é eterno.
Djair não
significa só protesto. Mas, um jeito diferente de permanecer cultuando pérolas
musicais diante de uma musicalidade atual extremamente apelativa, em sua
maioria. Por isso, quem vem a Pernambuco não pode esquecer que, lá do cume, do
alto, do pico, do topo do morro, onde uma santa de mãos unidas intercede por
nós, há uma voz que canta, há uma voz que dança, há uma voz que gira bailando
no ar.
Não deixe de ver e
compartilhar o Doc. Raul do Morro ao lado da postagem.
Expediente:
Texto - André Santana
Fotografia e Arte -
Jesuel Santana
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