segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Zé Brown, Zé do Gueto A Face do Subúrbio.


Quando uma semente é lançada em solo fértil, não há quem possa impedir a sua germinação. O tempo, senhor de tudo, é de Deus a criação. É o cartório e o batismo que nos abraçam e nos mostram sua dualidade, obrigando-nos a escolher o que achamos que nos é cabível. Cantar, jogar capoeira, embolar, dançar Reggae, virar b-boy ao ver mandacarus florescerem no asfalto. É Brasil, é Nordeste...

Há 40 anos nascia na comunidade do Alto José do Pinho um menino chamado José Édson da Silva. E, como todo menino, gostava e ainda gosta de pião, bola de gude e terreiro. Nesse país de tantos zés, é Zé Neguinho, Zé Limeira, Zé Lezim, Zé Lins do Rego, Zé Alencar, Zé Geraldo, Zé Rocha, Zé da Flauta, Zé Ramalho... chegou mais uma para aumentar o time. Zé Brown é o nome artístico desse grande garoto Homem feito. Com um pandeiro na mão, nosso M.c Zé Marron, canta uma belíssima em bolada falando dos Altos em plena praça da localidade onde morava. No Brasil é assim: Rap, repente e embolada fundem-se. Viram óperas suburbanas. Mas só se Zé Brown estiver por perto.


Brown foi um menino criado em duas realidades. Uma, o Alto onde nasceu e se criou. Setor urbano.  A outra, Nazaré da Mata, setor interiorano. Filho adotivo criado sem pai, o tempo presenteou-lhe duas mães. Assim como vinho fino envelhecido, o tempo também maturou o seu eu para que ele pudesse brilhar como pessoa e como artista nos palcos diversificados do mundo, levando a alegria de um caboclo embolador que é, urrando Rap até mesmo entre papangus. Isso é Brasil! 

Cada manhã que nasce é um passo que devemos dar em busca de algo, em busca de nós. E a fé, a grande força motriz que deve habitar-nos, é indispensável diante da dinâmica do viver. Um passo, dois passos, três passos... e foi de passo em passo que o encontro do artista com a arte do Hip-Hop aconteceu. Como água que foge de um cano estourado e encontra a luz do dia, esse acontecimento se deu em 1988. Nesse ano, ainda aluno de capoeira do mestre Cancão de fogo, Brown desce o Pinho com alguns amigos indo à Praça do trabalho que fica no Bairro de Casa Amarela. Lá havia uma feira típica com a presença de rodas de capoeira, de break e de uma equipe de som chamada geração 80. Foram momentos de muita Black- music e discoteca. Estupefato diante do espetáculo Hip-Hop, levado por um amigo, passou a frequentar todas as roda de break do Recife. Daí por diante começou a praticar essa dança. No entanto, foi só nos anos 90 que descobriu-se compositor, improvisador e M.c.

Em 1990 ele forma e torna-se âncora da Banda Faces do Subúrbio que tinha como integrantes: Tiger, Marcelo Massacre, Garninzé e Dj KSB. A banda era oriunda do Próprio Alto José do Pinho. Ela tinha um outro nome. Chamava-se: The Boys of The Rap, pois trazia em si mesma uma grande influência norte-americana. O grupo encontra-se em stand-by. Porém, Zé Brown garante que “A Faces” voltará aos palcos logo, logo. Tomara!

Quando alguém periférico, aqui no Brasil, ganha projeção municipal, estadual, nacional ou mundial em alguma arte, é nesse momento que vemos o florescer dos mandacarus em pleno asfalta, entende? A Orquestra Popular da Bomba do Hemetério é outro exemplo de mandacurus que florescem cotidianamente.

Zé Brown é o Homem 360º. Antena parabólica. Se vira com o que tem, com o que pode e deve. Charlin Chaplin brasileiro dividido entre a seriedade e a comédia.  Moldura de um artista que por onde pisa, o chão é de estrela. De estilo musical forte, o brado retumbante dessa nação também sai de sua boca, de sua voz, do seu canto. Podemos prestigiá-lo a hora que quisermos, pois a classificação indicativa é livre.

Expediente:
Texto - André Santana
Fotografia e arte - Jesuel Santana
Local: Alto José do Pinho, Recife - PE, Brasil

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