segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Pipas Para os Ares


Vento forte, sol e pipa. Uma harmonia perfeita para uma boa e grandiosa diversão. A amplitude de boas amizades é do tamanho do céu e revelam que a vida pode e deve ser leve quando se tem união. Mesmo que a dinâmica do cotidiano exija que é necessário subir montanhas sem cordas para sobreviver.

As crianças brincaram e brincaram e brincaram... E também cresceram... E também tornaram-se pais de outras crianças... Que também brincam com o mesmo brinquedo... Apesar dos games e notebooks. O Alto é do Brasil. O tropicalismo é de todos nós! É lá naquele Alto que os papagaios nascem e voam para direções diferentes.

Em um apertado barraco de tijolos nus e telhas Brasilit a arte lúdica se manifesta a todo vapor e traz consigo o sustento de pais de família. É nesse ambiente que as cores do papel seda e as paletas de bambu marcam presença e ganham forma auxiliados pela cola madeira e a linha de costura. Eles são do passado, do presente e do futuro. São papagaios que não cantam mas encantam, mas divertem... E marcam a vida de crianças, jovens e de alguns adultos que insistem ainda em brincar. Então, venha pra laje! Venha pra rua, pra escadaria, pro quintal, pra ladeira! Mas não passe cerol na linha, não,  e nem perca o futuro. A escola espera por nós, pois é para a vida que estudamos. 

O desejo de voar do Homem vem de tempos bem remotos e, por que não dizer, do seu âmago. Porém, ele não é ser alado, é... Terrestre e metafísico. Ícaro, super-homem, homem-aranha, Santos Dumont, Marcos Pontes... Nossos mitos, nossos sonhos e fantasias, nossos desejos e nossa realidade. “Tá aqui”! Nosso retrato ao longo do tempo... Nosso espelho... Real, irreal, surreal... E, para ter a sensação de como seria voar como um falcão, ele, o Homem, fez e faz do céu um playground. Sendo assim, além de helicópteros e aviões, pipas pros ares... pipas num oceano de vento. E os devaneios jorram... Como jorram!

Discai! Discai, discai. Não, não, debica! puxa, puxa! Puuuuxa! Puxa, Mané! Puxa, meu irmão! Puxa, porra, oxe! Quer tirar onda, é? Quer tirar onda é, meu irmão, aqui? Olha o buruçu aí, ó!... Impossível brincar sem gritos... Impossível resistir ao impulso de pular o muro de uma casa sem pedir licença... Só se tiver cachorro bravo! A magia da brincadeira causa efeito hipnótico na maioria dos brincantes.


De todas as cores, de todas formas, para todas as direções, para todas as crianças. De tempos em tempos elas surgem no espaço se balançando como peixe dentro d`água. E, como se rasgassem o mapa de nuvem, mostram os seus malabarismos iluminadas geralmente pela luz do sol. Mas, para que tudo isso aconteça, alguém ou alguéns, lá em baixo, em chão firme, dá (ão) os comandos através da linha. A brincadeira fica mais animada quando há duelo entre elas.

Uma história maravilhosa envolvendo pipas foi confeccionada há 25 anos no seio de uma periferia e iniciou-se assim:

Edvaldo da Silva Alexandre, 49, morador do Alto do Brasil, certo dia olhou para o céu e uma ideia de gênio tomou conta do seu pensamento quando viu no espaço um papagaio de rabada. Um amigo dele percebendo o seu encanto chamou-o para confeccionar pipas e comercializá-las. Naquele dia, indo à feira, não sabia que eram elas, as pipas, que trariam o seu sustento por muitos e muitos anos. Edvaldo, conhecido por Preto, é o dono das cores do papel de seda e de um esforço pessoal incomparável e imensurável.


Produzindo pipas em grande quantidade auxiliado pelos amigos Irmãozinho, Victor, Pabllo, Tando, Juquinha, João Victor e Ivan todos do Alto do Brasil também, distribui todas elas em pontos do Recife, como o Mercado de Água Fria, Mercado de Casa Amarela, Alto Santa Terezinha, Alto José Bonifácio, na PE 15 e em Olinda.

Esse Homem de mãos e pensamento ágeis de tempos em tempos leva pro espaço movimentos e cores. Mantém viva uma tradição e várias emoções.

Enquanto houver pessoas desejosas em brincar com algo que exija contato com o tempo e com a rua, enquanto quiserem brincar com algo que não seja violento em plena pós-modernidade, tanto quem brinca quanto quem produz, muitos lucros terão. E, com certeza, outras histórias serão empinas pela internet.


Expediente:
Texto - André Santana
Fotografia e Arte - Jesuel Santana

Local: Alto José Bonifacio, Recife - PE, Brasil

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