segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Entrevista: Zé Neguinho do Coco / Interview: Zé Neguinho Coco


Ele é um poeta das coisas simples que são tão importantes à nossa realidade incisiva. Em suas canções tão emotivas e sublimes fala das flores, das coisas da nossa terra, da nossa gente humilde e sofredora, dos bichos, de acidentes geográficos, do presente, do passado e do futuro, de si mesmo e de Deus...

Contemporâneo de Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda, Marinês e Luiz Gonzaga, canta tanto quanto esses, e faz muita gente se emocionar com a levada  do coco raiz bem cantado. Cada canção que produz, é pedra de diamante lapidada esperando sempre atenção.

Sendo assim, leia a entrevista, tone-se fã desse artista que é patrimônio nosso, e se deleite em feixes de mote doce com rimas bem encaixadas.


Senhoras e senhores!

Temos o prazer incomensurável de lhes apresentar a nossa majestade “Zé Neguinho do Coco”.


Blog - Zé Neguinho, onde tu nasceste?

ZN - Nasci no Morro da Conceição, Casa Amarelo e me criei lá.

Blog - Com quantos anos você começou a cantar coco?

ZN - Com 12 anos.

Blog - Como foi a tua infância?

ZN - Não foi boa, mas também não foi ruim. Fui menino muito obediente e gostava de trabalhar.

Blog - Além de você, tem alguém na tua família que é coquista, que é artista?

ZN - E muita... Tio, pai, minha mãe cantava que só uma cigarra, embora não tem nenhum vivo, nenhum vivo...

Blog - Você enfrentou algum tipo de rejeição por ser negro ou por ser coquista?

ZN Não. Pelo menos nunca percebi.

Blog - E hoje, como você se sente sendo coquista?

ZN - Sinto-me bem por defender a boa música. Através da minha arte já viajei para São Paulo, Minas Gerais... Fui bem recebido nesses lugares. Ser reconhecido como artista em Pernambuco é muito difícil.

Blog - Qual o melhor momento para compor?

ZN - À noite é o melhor momento para compor, se o silêncio existir.

Blog - Você já pensou em desistir da carreia de coquista?

ZN – Não. Só que os artistas da terra estão muito encostados (esquecidos).

Blog - Qual é a tua religião?

ZN - Ecumênico.

Blog - Como foi a tua convivência com teus pais?

ZN - Era boa e ruim. Ruim porque não queria que meu pai se viciasse em cachaça. E ele se viciou... Boa porque me ensinaram o valor do trabalho. Mas não só trabalhei. Brinquei e toquei muito percussão.

Blog - Você gostava de estudar?

ZN - Não. Eu gostava mesmo era cantar coco. Não tenho nenhum coco feito de canetaComecei com doze anos de idade a cantar. O que canto hoje é o coco raiz.

Blog - Como devemos chamar o coco de Dona Selma do Coco?

ZN - Praieiro.

Blog - Você se sente velho?

ZN - Não. Velho é aquele que se acomoda.

Blog - Você conheceu pessoalmente Jackson do Pandeiro?

ZN - Mais! Almira Castilho, mulher de Jackson, Jackson e Genival Lacerda. Orlando Dias...

Blog - Por quais lugares do Bairro de Casa Amarela Jackson do Pandeiro andou?

ZN - Córrego do Euclides, Alto do Pascoal, Alto José Bonifácio, Morro da Conceição...

Blog - Você gostaria de ser menino, nos dias de hoje?

ZN - Não. A maioria das crianças perdem a inocência muito cedo, hoje.

Blog - Você já jogou capoeira?

ZN - Capoeira, futebol... Toquei em escola de samba...

Blog - Então diante desse caos todo, dessa confusão, dessa bagunça toda, dessa violência escancarada, dessa falta de vergonha na cara da maioria das pessoas... Qual é a mensagem de paz, a mensagem sua como artista, como um senhor de 70 anos de idade, pai de família, diria para o Recife, para Pernambuco, para o mundo e até mesmo para nós que somos seus fãs?

ZN - Respeitem os idosos, jovens. Não se droguem. Busquem boas coisas. Coisas saldáveis. Deus é mais!


Acesse o link abaixo e ouça uma das musicas do artista gravada na rua no dia da entrevista.

Quisera - Zé Neguinho do Coco

Expediente.
Fotografias - Jesuel Santana
Texto - Andrê Santana 
Local: Escola Municipal do Alto do Pascoal - R. Ladeira de Pedra, 958 - Água Fria, Recife - PE, 52111-430, Brasil

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